Um barco parece ser um objeto cujo fim é navegar; mas o seu fim não é navegar, senão chegar a um porto. Nós encontramo-nos navegando, sem a idéia do porto a que nos deveríamos acolher. Reproduzimos assim, na espécie dolorosa, a fórmula aventureira dos argonautas: navegar é preciso, viver não é preciso. Sem ilusões, vivemos apenas do sonho, que é a ilusão de quem não pode ter ilusões. Vivendo de nós próprios, diminuímo- nos, porque o homem completo é o homem que se ignora. Sem fé, não temos esperança, e sem esperança não temos propriamente vida. Não tendo uma idéia do futuro, também não temos uma idéia de hoje, porque o hoje, para o homem de ação, não é senão um prólogo do futuro.
Bernardo Soares
(Fernando Pessoa)
Livro do Desassossego
3 comentarios:
¿Por qué no pusiste el video de la canción?
Ya la escuché, perdón.
Ah! porque la canción no es un poema de Pessoa, sino uno de Caetano Veloso que toma de pretexto la frase de Pessoa en ese fragmento.
Besitos :*
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